quinta-feira, 1 de outubro de 2009

E no 7º Dia...

Este blog começou porque, todos os dias passo pelo “cão”. O “cão” vive acorrentado a uma árvore dentro de um campo de plantação de batatas. É o típico “cão de guarda”. Porte grande, musculado e toda a vida preso para “meter medo”. A mim mete-me pena. Todos os dias passo de carro tiro-lhe uma foto e peço-lhe desculpa “faço o que posso”. Ele é usado como um objecto, como alguém que compra uma campainha, ou um sistema de alarme e o coloca no portão. Está ali para servir o seu dono ausente. Todos os dias lhe atiram um pedaço de comida, ele ladra de vez em quando a quem passa, outras vezes nem se dá a esse trabalho, “para quê?”.



O que ele conhece do mundo começa e acaba naquela paisagem. Todos os dias, adormece e acorda no mesmo local. Todos os dias, são iguais. Acorda, fica ali deitado e dorme. Não interage com ninguém. Ninguém se aproxima dele, faz bem o seu trabalho. Não tem amigos de 4 patas, os outros cães não entram na propriedade e ele também não sai. Não tem amigos da espécie dele e tem muitos inimigos da espécie que o colocou naquela prisão.



Água, uma árvore e uma casota feita de tábuas e um telhado de zinco é tudo o que ele tem e é tudo o que ele vai ter até à sua morte.
Esta é a superioridade do ser humano, a de poder usar outro ser senciente, ignorar as suas necessidades, bem-estar, sentimentos e trata-lo como um objecto.

Não sei à quanto tempo o “cão” está nesta existência, será que ele alguma vez viveu para além disto? Quando levo os meus cães a passear na praia, a nadar no mar, a correr na areia, a brincar com outros cães, a dormir no meu colo enquanto lhes coço as orelhas, a cheiras as matas, a ver o pôr-do-sol, penso sempre no “cão”, preso a uma corrente, deitado no pó, com calor, ou frio, ou fome, ou solidão. Penso no “cão” e reduzo-me à minha insignificância de nada poder fazer e ao meu desgosto eterno de fazer parte da espécie que faz algo tão cruel ao “cão”.

3 comentários:

  1. Olá Cláudia!

    A pertinência deste blog é inequívoca. Em pleno século XXI ainda há quem acorrente cães durante uma vida inteira. Há situações que me incomodam profundamente e esta é certamente das primeiras. Por mais que me esforce não consigo compreender o que leva um ser humano a acorrentar um cão “para sempre”, que cultura esta da indiferença e do desrespeito animal…

    Carlos Costa

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  2. Seria de esperar que aqueles que argumentam uma inteligência superior a usariam para algo util, algo também superior, ao serviço de todos os que habitam o planeta, será que estas pessoas pensam no que estão a fazer, será que vêem o que nos olhos desse "cão", quando ele demonstra a sua frustração de estar preso, será que percebem a sua falta... mais importante ainda... quando ele suspira de tédio por estar sempre no mesmo sitio será que percebem o que isso significa mesmo... uma vida inteira com o mesmo horizonte?!

    Isto é na minha opinião fruto de uma dessensibilização colectiva, os que fazem isto e os que acham isto normal sofrem de um problema de falta sensibilidade, têm as emoções adormecidas pelas normas morais da sociedade em que vivem.

    Porque eu que não consigo entender isto sei com toda certeza do mundo que não estou errado, equivocado, que não sou demasiado sensivel, excentrico, maluco, apenas consigo sentir empatia pelo "cão" que vejo à minha frente, coloco-me no seu lugar, vejo o mundo pelos seus olhos e não gosto da paisagem!!!

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  3. Já há muito tempo que um blog não me tocava tanto...

    e não há palavras..

    Parabéns pela iniciativa. Não te conheço mas tenho a certeza que és grande(por dentro) e tens um coração ainda maior. E lamento que hajam tão poucas pessoas como tu

    Parabéns

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